Passo da Azimut mostra gestão aquecida

11/05/2018


A empresa italiana Azimut do Brasil, que no país tem cerca de R$ 15 bilhões sob gestão (dos quais R$ 5 bilhões em wealth management), avançou mais um degrau na sua estratégia de ganhar escala no mercado local. Fechou acordo com a gestora de patrimônio carioca Guidance, incorporando a equipe que faz assessoria a investimentos de uma carteira de cerca de R$ 900 milhões. O grupo italiano – que no mundo reúne EUR 60 bilhões (cerca de R$ 200 bilhões) – vem mostrando um crescimento acelerado no Brasil, tendo partido em 2015 de um patrimônio de R$ 500 milhões para um portfólio dez vezes maior. O principal caminho tem sido incrementar as operações por meio de aquisições e outros movimentos de consolidação como o atual, que não contempla a incorpo ração do CNPJ, como tinha sido o caso da compra da BRZ, braço de grandes fortunas da BRZ Investimentos, controlada pela GP Investimentos, quase dois anos atrás. Os passos da Azimut no Brasil são mais um exemplo do quão aquecido se tornou o mercado de gestão de patrimônio, com vários movimentos de consolidação recentes. Só neste ano, o suíço Julius Bär adquiriu a Reliance, uma das grandes do setor, com R$ 17 bilhões de patrimônio, enquanto o Andbank se associou à Triar, com cerca de R$ 1,5 bilhão, e também  chegou à marca de R$ 5 bilhões. Um ano atrás tinha sido o UBS a anunciar a compra da Consenso, um atalho de R$ 20 bilhões para sua área de gestão de fortunas no país.

Avançar no mercado carioca era um desejo antigo da Azimut, conta Antônio Costa, executivo-chefe da divisão de gestão de patrimônio da instituição no país. “O Rio de Janeiro tem quase 16% da massa de ‘wealth’ e ‘private bank’ no Brasil, isso equivale a cerca de R$ 150 bilhões, e o mais interessante é que essa riqueza é concentrada na cidade do Rio de Janeiro”, diz. “Com presença lá, a empresa consegue capturar boa parte dessa riqueza.” Em parceria com o time da Guidance, a Azimut está reformando um escritório para se instalar no Leblon – coração das butiques de investimentos e gestoras de recursos cariocas -, sob a marca Azimut Wealth Management. Ao se plugar à gestora, os executivos da Guidance passam a ter acesso à equipe técnica de São Paulo, de 75 pessoas, bem como à estrutur a global, que inclui presença em países como Mônaco, Luxemburgo ou Milão. A Guidance foi fundada em 2013 por Valéria Rodrigues e Fernando Rodrigues, ex-sócios e diretores da Opportunity Asset Management, em conjunto com o economista Elie Sander. No último formulário de referência, do fim de março, informava um total de R$ 767,4 milhões em carteiras administradas e R$ 117,8 milhões aplicados em ativos financeiros no exterior.

Para 2018, Costa prevê balancear a expansão orgânica com aquisições. O mercado de Belo Horizonte é um desses alvos e o executivo antecipa ter conversas avançadas por lá. O público-alvo tem sido tanto o segmento “ultra high”, de famílias com patrimônio acima de R$ 10 milhões, como o atendido pelos serviços de private bank, que abrange indivíduos com algo entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões.

Fundada em 1989, a Azimut SpA é a maior gestora independente da Itália. Fez sua oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) em 2004, pulverizando o capital na bolsa de Milão, mas o sócio-fundador, Pietro Giuliani, ainda está à frente do negócio.

A instituição tem presença em 17 países e, no Brasil, a estratégia de crescer por meio de aquisições foi recorrente também na área de gestão de recursos. O grupo comprou a Legan em 2013 e a Quest em 2015, quando também trouxe a FuturaInvest, uma estrutura de distribuição de títulos e valores mobiliários (DTVM) para o negócio.

Em tempos de Selic na casa de um dígito e com chance de cair a 6,25% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio, mais relevante se torna esse tipo de prestação de serviço. “Para quem é alocador, a realidade de juros baixo é boa, porque nosso trabalho é mais valorizado”, diz Fernando Gelman, executivo-chefe da gestora de fortunas  Brainvest no Brasil. Ele cita que, quando o CDI estava na casa dos 14%, o investidor deixava o dinheiro na Letra de Câmbio ou em Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCI e LCA) no banco e pronto, mas com meses seguidos de CDI a 0,3%, 0,4%, com 2% no acumulado deste ano, quem tem necessidade de renda não consegue viver sob o novo padrão de rentabilidade e vai buscar o gestor porque não sabe tomar risco sozinho. “Apesar de eu adicionar um custo líquido no bolso dele, é melhor do que fazer a alocação sozinho ou ficar restrito ao cardápio do banco”, diz.

Com cerca de R$ 1,4 bilhão administrado no Brasil – e um total de R$ 6 bilhões com a fatia no exterior -, Gelman conta que março foi um dos melhores meses de captação para a gestora, que atraiu cerca de R$ 100 milhões. Um estudo realizado pela Fundação Dom Cabral por encomenda do Julius Bär referenda essa percepção. Por meio de entrevistas e questionários com 154 pessoas com mais de R$ 5 milhões em investimentos, com predominância no Sul e Sudeste, os pesquisadores identificaram que, no processo de escolha do gestor de patrimônio, o conhecimento de alguém especializado é um dos princípios mais valorizados pelas famílias (85%). “É sob a perspectiva de ter alguém melhor do que ele para tomar a decisão, coisas que sozinho não consegue, que ele busca o profissional”, diz Mônica Carvalho, uma das responsáveis pelo mapeamento feito ao longo de 2017, ao lado de Virginia Izabel.
O fator tempo (22%) também pesa nessa escolha porque muitos são executivos envolvidos na gestão dos seus próprios negócios. Outra questão relevante, acrescenta, é a transparência em relação aos custos cobrados (96%). “Se ele paga pelo serviço, quer saber quanto e, entre as opções [de investimentos] oferecidas na hora da recomendação, quer ter certeza de que a indicação foi com base técnica e não na receita que gera.” Quando questionados sobre a percepção que têm entre os serviços de private banking em comparação à gestão independente, tanto os que usam quanto aqueles que não utilizam a assessoria fora dos bancos veem nas instituições financeiras uma maior prioridade nos próprios interesses.  Na gestão independente, os investidores enxergam um leque mais amplo de produtos e maior customização de acordo com o perfil de risco. No quesito garantia de solidez e permanência, a placa do banco leva a melhor, além de inspirar maior confiança e segurança.

Pelas últimas estatísticas da Anbima, que representa o mercado de capitais e de investimentos, as estruturas independentes de gestão de patrimônio associadas reuniam ao fim do ano passado R$ 98,1 bilhões, um incremento de 12,3% em relação a 2016. No conjunto dos serviços de private banking eram R$ 964,0 bilhões, com expansão de 16%, e 56,7 mil grupos familiares.

Fonte: Valor



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